sábado, 19 de fevereiro de 2011

Aposta segura

Primeiramente, gostaria de pedir desculpas pela demora em publicar novamente, mas estive em uma semana corrida, cheia de compromissos profissionais e acadêmicos. Mas, sem mais enrolações, vamos ao que realmente importa: futebol.

Seguindo a linha da publicação anterior, quando foi falado sobre a estrutura precária das categorias de base no Brasil, hoje gostaria de comentar sobre a política de transferências aplicada na maioria dos clubes brasileiros. Para os que não lembram, esse foi um dos argumentos utilizados anteriormente pra justificar a pouca e/ou má-utilização dos garotos no time principal.

O que justifica um clube oferecer cerca de €10 milhões em um atacante de 30 anos, ou seja, sem perspectiva de gerar lucros no futuro, e não apostar num garoto que foi artilheiro do clube, mesmo após má campanha, na Copa São Paulo? Esse é o caso do Corinthians, que ofereceu essa quantia estratosférica pelo centroavante Luís Fabiano, o Fabuloso, e até hoje não testou o garoto Jô. Ou um clube pagar cerca de R$6,5 milhões em um meia de 26 anos, emprestando um garoto de 20 anos, com experiência em Libertadores (por sinal, fez um gol que eliminou o São Paulo na edição de 2009), para clubes como Vasco e Goiás? No caso, foram citados, respectivamente, Montillo e Bernardo.
O que entra em discussão não é a qualidade, mas sim a falta de oportunidade dadas para alguns garotos que mostraram potencial pra, pelo menos, fazerem parte do time principal. Com certeza, Jô não é melhor que um atacante titular da Seleção Brasileira na última Copa do Mundo. Mas o mesmo não pode ser dito na comparação dos meias cruzeirenses. Afinal, quando teve chances no Cruzeiro, Bernardo correspondeu, mostrando boa visão de jogo, qualidade no passe e um bom chute de média distância. Oscilação, aos 18, 19 anos, é algo normal. No Goiás, foi um dos poucos jogadores, ao lado de Rafael Moura, por exemplo, que se salvaram do fiasco do rebaixamento esmeraldino em 2010.
Além da falta de oportunidade, o que chama a atenção é o valor gasto nos reforços. Com um garoto tão promissor quanto Bernardo, valeu mesmo a pena gastar mais de R$ 6 milhões em outro jogador da mesma posição? Vale lembra que, na pior das hipóteses, a equipe ainda tinha o irregular Roger no banco. No caso do Corinthians, mesmo com investidores, da onde o clube arrumaria mais de R$20 milhões? Vale lembrar que a dívida do clube chega perto da casa dos R$100 milhões, cinco vezes mais que a quantia oferecida pelo centroavante do Sevilla.

Outra questão a ser levantada: o jogador dará retorno ao valor investido? No caso de Montillo, dá pra dizer que sim, visto que foi o principal jogador da equipe no vice do Brasileirão 2010. Pra obter essa resposta, é necessário pesar a idade do jogador, potencial, poder de decisão, valor investido, além, claro, das atuações.

Era nesse ponto que eu queria chegar para justificar três contratações que repercutiram bastante na região Sudeste: Ronaldinho, Rivaldo e Liédson, além de justificar fracassos de outras, como Roberto Carlos.

O Flamengo teve um mercado bastante movimentado, com a chegada de nomes como Bottinelli, Felipe e Thiago Neves, mas a grande contratação foi Ronaldinho. Além de alavancar o marketing rubro-negro, o jogador traria um pouco mais de qualidade no ataque. Até agora, o ex-jogador do Fluminense tem dado mais resultado, pelo menos dentro de campo, que o jogador que foi eleito melhor do mundo por duas vezes. Do ponto de vista financeiro, ao que parece, o retorno não foi tão grande, pelo menos, por enquanto.
O tricolor paulista, por sua vez, notou a ausência de um meia, e decidiu trazer Rivaldo, aos 38 anos. Uma aposta arriscada, de um jogador que teve seu último grande momento em 2002, na Copa do Mundo. Após isso, lampejos na Grécia, por Olympiakos e AEK, além de uma passagem pelo irrelevante Bunyodkor (futebol uzbeque não é algo a se levar em conta, né?). Em sua primeira partida, deu a impressão de que iria calar a boca dos críticos, tendo uma excelente atuação. Após isso, partidas medianas, mostrando o que sempre foi notável: o jogador, no auge, dependia muito de sua condição física. Hoje, perto dos 40 anos, obviamente, o jogador não renderia tanto assim.
Já o Corinthians acertou em cheio, ao meu ver. Pagar cerca de R$4 milhões em Liédson foi uma boa sacada. Perto dos mais de R$20 milhões de Luís Fabiano, o "Levezinho" foi uma pechincha. Fora isso, nunca foi um atacante explosivo, e sim um jogador ágil e de ótimo posicionamento, qualidade que, por sinal, melhorou com a experiência adquirida em gramados portugueses. Justificou minha opinião com 4 gols em 3 jogos. Em um clube com poucos ou nenhum matadores no elenco, a aposta foi certa, pois é um jogador fisicamente bem, apesar dos 33 anos, que poderia jogar cerca de 45 partidas em um ano, além de se tratar de um velho conhecido da torcida, por onde passou em 2003 marcando muitos gols.
Em contramão, na mesma semana em que o atacante foi anunciado, o lateral-esquerdo Roberto Carlos se despedia da equipe, justificando "falta de segurança". Segundo a empresa que fazia sua segurança em São Paulo, o jogador não sofreu nenhuma perseguição no trânsito, ao contrário do que disse o jogador. Menos de uma semana depois, foi anunciado pelo clube russo Anzhi por um contrato de R$22 milhões em dois anos e meio de contrato. E disse que não pensou no dinheiro.
Pelo clube paulista, Roberto Carlos não deu o retorno esperado. Em marketing, rendeu menos que o esperado, não dando tanto retorno financeiro quanto o planejado pela diretoria alvinegra. Em futebol, teve ótimas exibições. Porém, nas vezes em que precisou ser decisivo, falhou: na Libertadores 2010, foi apático, lento, enquanto não atuou em 2011. Em clássicos, teve boas atuações contra São Paulo e Santos, porém foi expulso antes dos 10 minutos contra o Palmeiras, além de ser expulso em outra ocasião, contra o time da Vila Belmiro. Com sua saída, o Corinthians economiza cerca de R$4 milhões em salários, além de dar chances a outros nomes, como Marcelo Oliveira, além de, futuramente, abrir espaço para nomes como o promissor Dodô, que já foi sondado pelo Manchester United, e Denner, destaque da equipe na última edição da Copinha.

Em outros centros, Atlético-MG continua com sua política de contratações milionárias questionáveis, como foi no ano anterior. Sob o comando de Luxemburgo, o Galo quase foi rebaixado. Com Dorival, a perspectiva é melhor. O Bahia, recém-promovido para a primeira divisão nacional, investiu em jogadores questionáveis, como Souza e Bruno Paulo, trouxe, por empréstimos, jovens valores como Boquita e Dodô, mas perdeu seu principal atacante de forma estúpida, Jael.

O Cruzeiro decidiu deixar o time mais fraco e trouxe "reforços" como Ortigoza, Leandro Guerreiro e André Dias, emprestando o promissor Bernardo, novamente, dessa vez para o Vasco.

Um dos únicos clubes que pode ser elogiado, de certa forma, é o Santos. Apesar de gastar um dinheiro que não tinha (segundo consta, antecipou a sua cota televisiva da FPF até 2013 ou 2014), contratou bons jogadores, como Jonathan e Elano, para reforçar um time com ótimos garotos, como Neymar, Ganso e Makon Leite. Mesclou experiênca com juventude, mas pode ter um grande problema financeiro se fracassar no objetivo do ano: a Copa Libertadores
 Como pode ser visto, poucos clubes apostaram em jovens, sendo mais discretos nas contratações. Além disso, boa parte deles gastou uma quantia considerável, seja em salário ou em verba pra contratar, trazendo jogadores de valor questionável. Continuando assim, cada vez o espaço para o surgimento de novos valores se torna mais difícil. Faz quanto tempo que não temos um centroavante confiável surgindo num clube brasileiro?

3 comentários:

  1. Acredito que, no geral, os clubes brasileiros apostam em jovens valores com uma frequência absurdamente maior que as grandes ligas da Europa, por exemplo.
    No caso específico do Cruzeiro, acho que a diretoria celeste acertou em cheio ao trazer um jogador pronto como Montillo (que chegou e resolveu) e emprestar Bernardo para ganhar estofo com outras camisas.
    No mais, não é todo clube que tem paciência para dar aos jovens valores todo o tempo que necessitam para atingir o potencial de titulares. Normalmente, quanto maior o clube, maiores são as cobranças e o risco de queimar um bom nome é grande.
    No entanto, cada situação deve ser analisada individualmente e a contratação de Rivaldo pelo São Paulo é um exemplo de aquisição desnecessária para um clube que conta com uma jóia como Lucas.
    Enfim, são casos e casos.

    Abraços.

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  2. Michel, o problema é que o Bernardo já tinha experiência, como eu citei. Não era mais um jogador cru, já tinha atuado em Libertadores (sendo decisivo, inclusive). Poderia jogar, tendo o Roger como sombra. Porém, Montillo deu certo, e isso vira secundário, como falei. Não era necessário, mas deu certo.

    E, claro, cada caso é analisado em separado, como eu quis dizer no post. Montillo era desnecessário, mas deu certo, então acaba sendo bom. Roberto Carlos, por exemplo, era necessário, mas fracassou quando precisou.

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