sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Problema estrutural

Na semana em que a Seleção principal perdeu para a França, enquanto a sub-20 perdeu para a Argentina, um sinal de alerta deve ser aceso no futebol brasileiro.


Na Seleção principal, o foco dos problemas envolve o meio-campo e o ataque. Convencendo apenas no primeiro jogo, contra os EUA, Mano Menezes tenta montar um time leve, rápido e com bom toque de bola, fato evidenciado com as apostas em jogadores como Neymar e Paulo Henrique Ganso. Este último deveria ser o principal jogador da equipe, armando as jogadas para atacantes rápidos e de boa movimentação (como Neymar e Pato), dando o toque de qualidade que faltou na equipe do antigo treinador, o contestado Dunga.
As coisas começaram a desandar quando o camisa 10 sofreu uma grave lesão no joelho. Depois disso, atos de indisciplina de "Ney" e (mais uma) lesão de Pato, prejudicando a montagem da "equipe dos sonhos". O treinador tentou, em vão, encontrar um jogador a altura do futebol jogado por Ganso em sua estreia com a "amarelinha". Ronaldinho, Douglas, Hernanes, Carlos Eduardo e Renato Augusto foram testados, sem sucesso, fazendo ruir o esquema inicial do gaúcho, culminando com derrotas para Argentina e França.

É onde entra a Seleção sub-20, que deveria preparar e provir jogadores para a categoria principal. Em um torneio que deveria vencer facilmente, devido ao elevado nível técnico de seus jogadores (Lucas, Oscar, Alex Sandro...), o Brasil não conseguiu convencer os torcedores nas partidas disputadas. Vitórias apertadas ou com placares elásticos conquistados nos últimos dez minutos de jogo, após outros oitenta sofridos, não foram o suficiente para esconder um meio-campo desorganizado e de pouco toque de bola, cuja ligação com ataque é feita através de chutes para os velozes Neymar e Lucas correrem. Oscilação era algo esperado, afinal, tratam-se de garotos com menos de vinte anos, que ainda não conseguiram firmar uma boa sequência na carreira.

O que mais assustou, no aspecto mental, foi a imaturidade e indisciplina. Nesse caso, a idade não pode ser usada como justificativa, afinal, tratam-se de atletas profissionais com acompanhamento psicológico, alguns até titulares em seus clubes. Zé Eduardo, por exemplo, está em seu segundo Sulamericano sub-20 e tem experiência internacional, com uma passagem pelo Ajax, e atualmente joga pelo Parma. Isso não evitou com que fosse expulso de forma infantil na estreia contra o Paraguai. Neymar, artilheiro da competição até aqui, divide momento brilhantes, como no jogo contra o Paraguai, com momentos fracos. Um deles foi contra a Argentina, quando o atacante perdeu a cabeça e preferiu passar a partida se atirando no chão, na tentativa de cavar faltas, e discutir com a arbitragem.

Isso nos leva a observar o trabalho das categorias de base no Brasil. Não que falte talento, mas falta estrutura. Em alguns casos, faltam estrutura e treinos específicos de posição para melhorar fundamentos essenciais, como um lateral saber cruzar, ou um meia saber passar bem a bola. A falta de preparo psicológico leva jogadores com grande expectativa a decepcionarem, os chamados "flops".

Nesse último caso, enquadra-se Lulinha, jóia da base do Corinthians entre 2006 e 2007. Estreando pela equipe profissional no ano de seu rebaixamento (2007), aos 17 anos, foi lançado como "salvador da pátria", mas não conseguiu evitar a queda do alvinegro paulista. Caiu no ostracismo e hoje atua, por empréstimo, em clubes pequenos e médios de Portugal, como Estoril e Olhanense.
Em outros casos, falta talento, o que indica a má-estrutura de clubes na hora de selecionar os jogadores jovens que envergarão sua camisa no futuro. Em alguns clubes, o departamento de futebol amador é sucateado, formado por amigos de conselheiros, ou seja, homens "de favor". No Brasil, pouco clubes contratam profissionais realmente qualificados pra cuidar do setor, desenvolvendo os garotos desde os 10 até os 20 anos. Os exemplos podem ser o Santos, Inter, Cruzeiro, clubes que estão sempre em evidência quando se trata de torneios de categorias inferiores.

Grandes clubes, com grandes pretensões, preferem gastar quantias absurdas em contratações, deixando a base de lado. Mesmo com uma boa estrutura na base, por exemplo, o Cruzeiro não hesitou em trazer o argentino Montillo, quando poderia ter apostado no garoto Bernardo. Digam-me que clube no Brasil não gastou muito, seja em transferência ou salários, com alguns jogadores nos últimos três anos.
Devido a isso, há pouco espaço para os garotos pegarem experiência. Faz parte do crescimento mental do jogador atuar pelo time principal, sentir a pressão, mesmo que como reserva, de jogar por resultados satisfatórios. Por isso, a cobrança em cima de jogadores como Neymar e Zé Eduardo, mais "experimentados", deve ser maior.

De qualquer forma, o correto seria um clube mesclar boas contratações com investimentos nas categorias de base. Investir em profissionais qualificados, como "captadores", ou treinadores que saibam explorar o potencial de seus pupilos. Não adianta formar um time baseando-se apenas em jovens, também. É necessário haver um jogador mais experiente que possa orientar o desenvolvimento deles.


*Para ler mais sobre categorias de base: Olheiros

6 comentários:

  1. A verdade é que a Seleção Brasileira é fraca. É fraca na defesa - onde só se salva o goleiro e o lateral direito; é fraca no meio, onde carece de volantes e meias; é fraca no ataque, que depende dos lampejos de Robinho e não tem um "matador". E por favor, não me venham com "Kaká está voltando". Kaká está lesionado há um bom tempo, e NUNCA foi referência na Seleção. Nada fez em 2006, e nada fez em 2010. Não é o jogador que irá liderar a Seleção. Neymar e Ganso? Bons jogadores, mas ainda não testados contra adversários de peso. A Seleção Brasileira está numa entresafra, que muito me lembra os anos 86/90...

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  2. Concordo, Thomas. O problema é que alguns torcedores não entendem, acham que a Seleção é a melhor do planeta (hoje, não é) e cobram resultados. Faltam jogadores em muitos setores.

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  3. Discordo em partes. Sou da opinião que a Seleção Brasileira vive sim uma entressafra, porém, está muito, mas muito longe de ser fraca.
    Ao contrário do que diz o camarada Thomas, o único ponto realmente questionável na defesa é a presença de André Santos entre os titulares em detrimento de Marcelo. No mais, tanto os citados JC e Daniel Alves, quanto a dupla de zaga são jogadores de ótimo nível. Thiago Silva, inclusive, é um dos melhores defensores do mundo na atualidade.
    No meio, acredito que Lucas e Ramires formam um duo bastante digno na volância. Mais à frente, Ganso e Neymar precisam de rodagem, mas é nítido que há muito talento nos santistas.
    O que mais me preocupa é a ausência de um centroavante que chegue a assuma de vez a camisa 9. Pato é o melhor dos que estão em atividade, mas ainda é irregular e neste momento é banco no Milan. Fred, outro que a imprensa vive a elogiar, não tem futebol suficiente para suprir a posição que um dia teve jogadores do calibre de Romário e Ronaldo.

    Abraços.

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  4. Michel, ao meu ver, Pato não é um centroavante. O nome da Seleção seria K9, pra mim, o sucessor de Ronaldo. Porém, até agora, não justificou um décimo da expectativa. Quanto os volantes, falta qualidade. Lucas não me passa tanta firmeza. E não há reserva pra Ganso na armação.

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  5. Pedro,

    Pato é visto como centroavante tanto por Mano quanto por Allegri. Tanto é que o brasileiro é tido como reserva de Ibra, embora seja utilizado com frequência na ponta direita. Claro, ele não é um centroavante clássico, mas deve seguir como o homem mais adiantado do 4-2-3-1 brasileiro.
    Quanto ao reserva (ou postulante à vaga) de Ganso, este é Kaká. Aos 28 anos e clinicamente curado, não vejo razão para excluí-lo da disputa.

    Abraços.

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  6. Michel, Pato é, ao meu ver, um atacante mais móvel. Gosto dele atuando como segundo atacante, vindo de fora da área.

    Quanto a Kaká, é um bom jogador, mas não é tão criativo quanto o titular. Prefiro um meia que trabalhe mais a bola. Kaká é uma boa chamada pra contra-ataques no segundo tempo.

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